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Quando um ministro ordenado precisa cuidar da saúde emocional

31/07/2022

Quando um ministro ordenado precisa cuidar da saúde emocional

Ver um sacerdote no altar é algo sagrado para Igreja Católica e seus fiéis. O ministro ordenado “participa da autoridade com que o próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo” (Catecismo da Igreja Católica 1563). Portanto, tal missão edifica a Igreja e favorece a santidade de todo o povo de Deus. 

Com sua missão, possui diversas atribuições como distribuir os sacramentos do Batismo, da Penitência, da Eucaristia, assistir aos casamentos, administrar paróquias, comunidades e pastorais, além de, em alguns casos, possuir trabalhos seculares. 

No entanto, algo que não se pode esquecer é que Deus depositou todos esses dons e missão em um ser humano limitado, pecador e cheio de necessidades. Por isso, tão necessário quanto cuidar de sua saúde física, é importantíssimo que o ministro ordenado não se descuide de sua saúde emocional e psíquica.  

Confira quais os principais desafios que um ministro ordenado pode enfrentar em sua saúde emocional. 

O dia de um ministro ordenado 

Padre João Paulo (personagem fictício) acordou às 6h da manhã, porque precisava rezar suas Laudes antes de sair para a missa que celebra no Santuário, onde é vigário. Acordou? Não! Levantou da cama, porque havia passado a noite em claro, mais uma vez. 

De lá, come alguma coisa na padaria e vai direto pra algumas reuniões na Cúria diocesana, da comissão que faz parte. No meio de uma discussão, sente uma palpitação no peito e uma leve tontura. Toma uma água e se recompõe. 

Depois, almoça na casa de um paroquiano mais próximo e, às 14h, já precisa estar na secretaria paroquial para uma tarde de confissões. Mesmo no meio de uma conversa acalorada, sente um vazio e uma tristeza que costuma visitá-lo, aparentemente sem motivo. Olha para aquela família de seu amigo e pensa: “Talvez, se eu tivesse me casado, não me sentiria tão só!”. Percebe aquele pensamento como uma tentação e rapidamente o afasta. Não tem tempo para pensar nisso, é preciso correr. 

Costuma passar muitas horas no trânsito. Nesse momento sente sua impaciência e cansaço, falta de ar ou até uma dor de cabeça.

Ao fim da tarde, costuma visitar sua mãe já idosa e dar assistência, enquanto não começa a Missa da noite, que será seguida de uma reunião mais complicada com o conselho pastoral. Ao fim da noite, vai a uma lanchonete comer um sanduíche de seu gosto particular e segue para casa. 

Às 23h começa sua saga: a luta contra a insônia. O corpo está cansado, exausto, mas seu esvaziamento interior, quanto à sua vocação e ao sentido de sua vida, não o deixam relaxar. Suas articulações doem e por vezes é assaltado por tremores musculares, aparentemente sutis, mas que o tem preocupado, porque são cada vez mais recorrentes. 

É hora de reconhecer que precisa cuidar-se 

Em meio a essa rotina exaustiva e desafiante, é possível perceber sintomas que sinalizam a necessidade de atenção consigo mesmo. O cansaço emocional muitas vezes se traduz com sintomas físicos como dores generalizadas, somatizações como dermatite ou gastrite, além de insônia, picos hipertensivos, entre outros. 

Além disso, o ministro ordenado pode enfrentar uma forte crise de sentido de vida e da sua própria vocação, por não conseguir encontrar prazer naquilo que faz. O próprio estresse do excesso de atividades e atribuições contribuem para o desenvolvimento de estafa e crises de ansiedade. 

Todos esses sinais são demonstrações claras de que é preciso cuidar da saúde emocional do sacerdote. Apesar de sua característica solitária, o padre não precisa enfrentar tais desafios sozinho. Sua família, o colégio dos presbíteros, seu bispo diocesano ou mesmo amigos e paroquianos podem ajudá-lo. 

É preciso, no entanto, reconhecer que é necessário fazer esse caminho de resgate da sua saúde mental, emocional, física e espiritual. 

Um bom processo de revitalização pode proporcionar um resgate de sua vida e vocação. Não tenha medo de se deixar cuidar e amar.